Este é o texto original do meu artigo publicado na Gazeta Mercantil de hoje:
Sucesso pelo método TBC [Marcelo Cherto]
Meu irmão Carlos Cherto sempre foi um empreendedor. Nunca se acomodou, esperando as coisas acontecerem. Hoje está semi-aposentado e vive no Exterior. Mas, anos atrás, quando ainda era um estudante sem grana nem sobrenome ilustre, encontrou um jeito de formar uma clientela e ganhar um bom dinheiro. Classifico seu método na categoria TBC - “Tirar a Bunda da Cadeira” - e acho que vale a pena compartilhá-lo com os leitores, para que lhes sirva de inspiração nesta época de turbulências.
Carlos começava fazendo pesquisas no Cartório de Imóveis. Passava horas com o nariz enfiado naqueles livrões imensos e empoeirados, fuçando daqui, analisando de lá, até localizar alguma "transcrição" (título aquisitivo de imóvel registrado antes da Lei atual) na qual há muitos anos não constasse o registro de uma nova transação. Em seguida, ia até o imóvel, para ver em que estado se encontrava.
Se estivesse abandonado, fazia nova pesquisa para saber se o IPTU estava quitado. Quando havia débito, se virava até localizar o proprietário, para saber se queria vender. Se o dono já tivesse morrido, localizava o respectivo inventário, para verificar se o imóvel havia sido declarado. Por incrível que pareça, muitos herdeiros se esquecem de incluir um ou mais imóveis na declaração dos bens inventariados.
Foi assim que localizou uma área de bom tamanho, de frente para o mar, na Praia Grande. E, munido de um cartão de visita com o seu nome tendo embaixo a palavra "advocacia" - e não advogado, o que ele ainda não era - apresentou-se ao advogado do inventário, um “medalhão”, famoso e poderoso, dizendo-lhe que havia imóveis do falecido que não haviam sido declarados e que ele, Carlos, estava de posse de todos os elementos e se prontificava a regularizar tudo rachando os honorários, na base de metade para o tal medalhão e metade para ele.
O grande advogado achou graça naquele moleque atrevido e o apresentou ao herdeiro principal. Carlos conseguiu regularizar o imóvel em tempo recorde, o que permitiu que fosse vendido por uma boa grana. E ganharam todos: ele, o tal advogado e os herdeiros. E assim fez com muitas outras propriedades.
Nem todas eram valiosas, nem geraram para ele bons honorários. Porém, mais do que apenas grana, todos esses casos e sua garra em encontrá-los e capacidade de regularizá-los lhe deram a fama de profissional “que resolve”, que não enrola. Um jovem e dinâmico advogado que não tinha medo de encarar casos difíceis e conseguia resolvê-los com rapidez e profissionalismo. E essa reputação o acompanhou durante toda a sua vida profissional.
E, pode estar certo, caro leitor: no mundo dos negócios, ainda mais quando você é um empreendedor sem sobrenome ilustre e sem família rica que lhe dê retaguarda, ter a reputação de alguém que “faz acontecer” tem um valor inestimável.