24 de out. de 2008

A bruxa tá solta

É o meu segundo ex-patrão que morre num espaço de poucos dias. Na semana passada, escrevi aqui que havia ido à Missa de Sétimo Dia do primeiro cara que me deu um emprego, como office-boy, em Santos, quando eu tinha 16 ou 17 anos de idade, o Luiz Mesquita.

Hoje, li no Estadão que neste domingo, dia de votar contra a Marta, será a Missa de um dos fundadores do primeiro escritório de advocacia onde trabalhei (como estagiário) em São Paulo, há uns 35 ou 36 anos. Falo de José Eduardo Monteiro de Barros.

Na época, era um pequeno escritório que funcionava num antigo prédio de apartamentos da Avenida São Luiz chamado Edifício Vilma Sônia (ou Wilma Sônia, sei lá), que estava em pleno processo de se tornar um prédio comercial. Resultado: acontecia da gente estar chegando ou saindo com um cliente e dar de cara, no elevador, com uma dona de casa, ou uma empregada, empurrando um carrinho de feira. Me lembro de um advogado que morria de vergonha quando isso ocorria. Eu achava absolutamente hilário.

Quando fui trabalhar lá, éramos dois ou três estagiários, uma meia-dúzia de advogados e outros tantos funcionários de apoio. Não chegávamos a 20 pessoas, no total. Bons tempos, aqueles.

Não havia muitos clientes, nem um volume muito grande de casos em andamento. Por isso, em raras ocasiões, acontecia de dois dos sócios ficarem na sala de um deles jogando xadrez, enquanto a peãozada olhava.

Quem me deu o emprego não foi o Zé Eduardo. Foi um de seus sócios, o Antonio de Souza Correa Meyer, mais conhecido como Tonico Meyer ou Tony Meyer. E o fez a pedido de meu irmão, Carlos Cherto, na época sócio do Saulo Ramos e do Professor Vicente Ráo.

Além do Meyer, me aproximei bastante de outro advogado, que na época, se não estou enganado, nem sócio era, o Moshe Sendacz. Aprendi muito com os dois, de quem até hoje sou amigo e admirador incondicional. E a quem sou muito grato pelas oportunidades que me deram e pelas portas que me abriram. Moshe, aliás, foi o principal responsável por eu ter sido aceito no curso de Mestrado em Direito da New York Univesity, que foi um turning point na minha vida. Qualquer hora eu conto essa história.

Quem conhece o meio jurídico já deve ter adivinhado que aquele pequeno escritório, que na época se chamava Barros e Freire – Advogados e depois se tornou Barros, Machado e Meyer, veio a se transformar na enormidade que é o Machado, Meyer, Sendacz e Ópice, um dos maiores escritórios de advocacia do Brasil e da América Latina, com mais de 850 funcionários.

Um escritório que volta e meia é citado na Exame, no Valor e na Gazeta como um dos principais articuladores das Fusões & Aquisições e nos IPOs que dominaram a cena empresarial brasileira nos últimos anos.

Tenho um orgulho danado daquele pessoal e de ter feito parte - ainda que num papel ínfimo, menos que secundário, sem importância nenhuma - da sua história.