8 de mai. de 2007

Os advogados são todos paranóicos?

Fuçando uma livraria em Miami, deparei com um livrinho irresistível, contendo textos de etiquetas com alertas absurdos colocadas em produtos comercializados nos EUA. Como, por exemplo, aquela que dá nome ao livro, "Remova a criança antes de dobrar", colada num carrinho de bebê dobrável, da marca Century's TraveLite.

Há avisos simplesmente hilários, como estes:

"Nunca utilize este secador de cabelo enquanto estiver dormindo", num secador da marca Revlon;

"Não coma o tonner", num cartucho para impressora da marca Ricoh;

"Não use como tapa-ouvidos nem em nenhuma outra função que envolva inserção em alguma cavidade do corpo", num pacote de velas de aniversário;

"Não deve ser usado por crianças com menos de 3 anos de idade", num botton que diz "tenho 2 anos", para ser usado pelo aniversariante, na sua festinha do segundo aniversário;

"É perigoso engolir este produto", numa embalagem de anzóis de 3 ganchos;

"Atenção: comer pedras pode resultar em dentes quebrados", num estojo de pedras destinadas a uso em aulas de Ciências para crianças;

"Não utilize este produto se sua próstata estiver acima do tamanho normal"... num frasco do remédio Midol, destinado a tratamento de Síndrome Pré-Menstrual (nossa velha TPM); e

O meu favorito: "Mantenha fora do alcance de crianças", num tubo de pasta de dentes infantil.

Pode parecer cômico, mas é trágico. Afinal, esses avisos resultam da paranóia dos advogados das empresas que os estampam em seus produtos. Se bem que, como dizia um dos meus professores do curso de Mestrado em Direito na New York University, "o simples fato de nós, advogados, sermos todos paranóicos não significa que 'eles' não estão realmente lá fora, esperando a hora certa de nos pegar".

O fato é que a sociedade norte-americana se tornou absurdamente litigiosa. O país está cheio de espertinhos e advogados "de porta de supermercado" prontos a processar a todos por tudo. Foi-se o tempo em que um gringo que derramasse café quente nas próprias pernas simplesmente dizia um palavrão e se achava um imbecil. Hoje, o cara liga imediatamente para o advogado e processa o estabelecimento onde comprou a bebida.

Ou você acha que é sem motivo que as xícaras de café vendidas em várias redes de cafeterias e lanchonetes nos EUA agora vêm com o aviso "Bebidas quentes são quentes"? Pode parecer piada, mas garanto que não é.