19 de jul. de 2007

Até quando?

Ontem, dia seguinte à tragédia ocorrida em Congonhas, recebi de meu amigo Pedro Furquim um email com o seguinte texto, que reproduzo com a autorização dele:

"Você tem um amigo entre os acidentados? Não?

Eu tenho!

Vitacir Paludo, filho de Vicêncio Paludo, empresário, casado com Ângela e pai da jovem Paloma. O "Vita", da Vipal.

Bom amigo, homem de bem, honrado, marido e pai como poucos, conduta exemplar... mas um cidadão brasileiro, como você e eu.

Exposto aos efeitos do corruptor e do corrupto, de toda sorte de incompetentes e ladrões, de todo tipo de interesse comercial que privilegia o subterrâneo em detrimento do homem comum.

Viajei recentemente com Vitacir e Ângela, mais os irmãos de Vitacir: João Carlos, Salete, Bernadete e Nair Ana. Pude vê-los em família, plena comunhão.

Pude ouvir atentamente Vitacir falar do ipê que via todas as manhãs de sua janela, na casa recém-construída em Indaiatuba.

Lembro-me também de vê-lo comprando sementes de flores. Só queria, afinal, continuar vivendo.

Assim como você e eu.

Penso agora na dor de tantas famílias, com o ceifar de tantas vidas, gente querida de tanta gente, pessoas com ipês a ver, flores a plantar, filhos a criar e tanto por fazer.

Penso no comportamento passivo da companhia aérea, cujo presidente não põe o rosto diante das câmeras e se esconde atrás de seus funcionários desavisados e mal preparados.

Penso no jogo de empurra das responsabilidades entre Infraeros, ANACs, militares e outras "autoridades".

Claro que eles já sabiam que a pista estava muito escorregadia, que a obra havia sido entregue em condições inadequadas e que havia risco.

Vivo em aviões, preciso trabalhar, assim como o Vitacir e seus 179 companheiros de infortúnio.

Pousei ontem naquela pista.

Também estou nas mãos dessa gente.

Da janela do apartamento que ocupo agora, num hotel da Avenida Ibirapuera, vejo os primeiros vôos de Congonhas chegando.

A vida já está voltando ao normal no Brasil.

Até quando seremos tão mansos?"