3 de set. de 2008

Quer inovar? Não pergunte ao cliente o que ele quer

Mais um excelente artigo do meu amigo e associado Clemente Nobrega, publicado na Época Negócios de setembro:

O inovador genial não existe, esqueça-o! [Clemente Nobrega]

A história da inovação é assim: alguém inventa, outro pega e dá um uso estranho à intenção original.

Inovação ocorre por meio de seqüências de adaptações, uma puxando a outra. Na cena de abertura do filme “2001-Uma Odisséia no Espaço”, um pré-humano nota que um osso de animal morto poderia ser usado como arma. A cena (inesquecível) - ao som de “Assim falou Zaratustra”- mostra o osso lançado ao ar pelo “macaco” se transformando numa nave espacial milhões de anos depois. Eis aí. Quem inventa não sabe o que inventa.

O aparelho de fax foi inventado por americanos, mas foram os japoneses que ganharam dinheiro com ele. Steve Jobs da Apple - o inventor do conceito de computação pessoal- achava que sabia como o mercado para PCs iria evoluir. Perdeu para Bill Gates que estava longe de saber o que o Windows se tornaria.

Décadas antes do fax, uma empresinha japonesa - Tokyo Tele Communications - fabricante de fogões para cozinhar arroz,comprou da americanaWestern Eletric (por quase nada) a patente do transistor. Em 1955 lançou o primeiro rádio “de pilha”, mudou a história da comunicação e mudou de nome também: Sony.

Se você rebobinar a fita, vai ver que, da machadinha de pedra lascada ao microchip, raramente criamos com base em “necessidades e desejos” evidentes. George Basalla, autor de um livro clássico sobre o tema, diz: “Como todo o reino animal, nós também poderíamos viver sem fogo ou ferramentas. Cultivar a terra e cozinhar não são pré-condições para a sobrevivência humana e só são necessidades porque decidimos definir nosso bem-estar assim.. Houve tempos em que “necessidade” levou `a construção de pirâmides e templos, em outros, significou movimentar-se em veículos auto-propulsores. .. a conquista do supérfluo nos dá mais estímulo que a do necessário porque os humanos são criação do desejo, não da necessidade”.

O automóvel não surgiu da necessidade de nos locomovermos com mais praticidade e rapidez. Entre 1895 e 1905, carros eram brinquedos para ricos. Necessidade só surgiu depois que eles já estavam lá (há 10 anos!). É o produto é que inventa a necessidade!

Grandes inventores criam por instinto. Curiosidade. Fantasia. Brincadeira.

Thomas Edson não sabia o que o fonógrafo iria se tornar quando o inventou em 1877. Para ele seu uso seria pela ordem: "registrar ordens sem ajuda de estenógrafo; fornecer "livros falados" para cegos; ensinar a falar em público; reproduzir música; registrar as últimas palavras dos moribundos..." Reproduzir música era sua quarta prioridade (achava que seria uma coisa muito trivial para se fazer com sua máquina).

Pode apostar: há sempre um artefato mais primitivo que serve de embrião para o mais complexo. Até a roda surgiu por evolução de um design que já estava lá.

Quer inovar? Não pergunte ao cliente sobre suas necessidades - ele não sabe e, como você também não sabe, faça o que acha que deve e fique atento à maneira como seu produto é percebido; modifique-o se necessário, mate-o se não houver esperança.

Desejos e necessidades emergem desse processo, não são pré-definidos.

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