Estou em Nova York para uma série de eventos comemorativos dos meus 30 anos de Mestrado em Direito na NYU, onde estudei graças a uma bolsa de estudos. Além dos eventos oficiais da Universidade, meus ex-colegas de classe e eu conseguimos articular alguns encontros só nossos. Seremos pelo menos 19 ex-mestrandos, de 13 ou 14 países diferentes (França, Brasil, Argentina, Grécia, Suécia, Dinamarca, Peru, México, Costa Rica e assim por diante), todos da Classe de '78.
Quando eu tinha 22 ou 23 anos de idade, antes de começar o curso de Mestrado, estagiei durante 2 meses na área internacional do Manufacturers Hannover Trust, então o 3º ou 4º maior banco dos EUA, cuja sede ficava num imenso edifício na Park Avenue, próximo ao Waldorf-Astoria Hotel.
Duro e tímido, eu morava num apartamentinho de quarto e sala numa das áreas mais avacalhadas de Queens, a mais de 40 minutos de metrô e caminhada da Park Avenue. E, para o aluguel não ficar muito pesado, ainda dividia essa espelunca com um suíço-alemão super pão duro que havia conhecido na Califórnia alguns meses antes, quando fui líder (leia-se: monitor) de um grupo de estudantes do Experimento de Convivência Internacional.
Eu descia do metrô numa estação da Rua 50 com a Lexington e caminhava até o banco. E passava em frente ao Waldorf-Astoria. E sempre pensava "um dia ainda vou me hospedar aqui".
Poucas coisas eram mais inatingíveis para mim, naquela altura, do que passar uma noite no Waldorf. Uma noite nesse hotel custava mais do que eu pagava por um mês de aluguel do pulgueiro onde morava.
Mas nem por um minuto eu duvidei que, um dia, ainda me hospedaria ali.
Passados 30 anos, aqui estou eu, escrevendo estas mal traçadas numa suíte do Waldorf.
É bem verdade que meu gosto mudou muito, de lá para cá. Hoje, prefiro estar num hotel mais moderno, com certas mordomias que não combinam com um velho edifício art-deco. Tanto que eu já poderia ter me hospedado aqui outras vezes, mas nunca o fiz. E só estou aqui agora porque é onde vai acontecer, neste sábado, um imenso jantar organizado pela Universidade, seguido de um Baile de Gala. Achei que era mais fácil ficar aqui mesmo.
Mesmo não sendo mais um objeto do meu desejo, confesso que hoje, quando preenchia a ficha no balcão da Recepção, pura pompa e circunstância, olhei em volta e senti um arrepio, acompanhado de um sentimento um tanto babaca, mas nem por isso menos gratificante, de "olha eu aqui". Senti que tinha cumprido mais uma etapa, tinha concretizado mais um dos muitos sonhos que tive.
Agora, é tratar de ir atrás dos sonhos que ainda tenho. E que ainda não materializei. Mas vou materializar.