Aí vai o texto original do meu artigo publicado na Gazeta Mercantil de hoje:
Nunca é tarde para mudar
Imagino que aconteça também com outras pessoas com alguma exposição em eventos e na mídia: volta e meia recebo e-mails de pessoas que não conheço, pedindo conselhos e opiniões sobre aspectos cruciais de sua vida profissional, pessoal e até familiar. Algumas se desapontam - e até se irritam - quando digo que não tenho condição de ajudá-las. E muito menos de decidir por elas.
Por isso, fico feliz quando se trata de um problema que posso ajudar a sanar. Como foi o caso de uma moça de 30 anos que me escreveu alguns dias atrás dizendo que, depois de haver se graduado e trabalhado durante quase uma década em outra profissão, acaba de se dar conta de que gostaria mesmo é de trabalhar com Marketing. E qual o problema? Ela se considera velha demais para fazer um novo curso e iniciar uma nova carreira. Velha aos 30 anos? Só tinha um jeito: contei a ela a história de Christopher Peter Bueno Netto.
É pouco provável que você já tenha ouvido dele. Mas, como leitor da Gazeta Mercantil, deve saber quem é Fabio Bueno Netto, o empreendedor que teve a idéia de usar vending-machines para comercializar livros em estações de metrô. Pois Christopher é pai do Fabio.
Nasceu na minúscula Ilha de Santa Helena, no meio do Oceano Atlântico. A mesma onde Napoleão foi exilado. Seu pai, natural do interior de São Paulo, foi dar com os costados naquele fim de mundo porque, aos 18 anos, leu um anúncio de jornal procurando um taxidermista (empalhador de animais) e exímio atirador para integrar a expedição do Blossom, navio inglês de pesquisa em viagem exploratória pelo mundo afora. E ele, que era capaz de derrubar uma mexerica a mais de 20 metros cortando seu talo com um tiro certeiro de estilingue ou espingarda, fez um cursinho rápido de taxidermia no Museu Nacional do Rio de Janeiro, conquistou a vaga e lá se foi.
Em Santa Helena, conheceu aquela com quem viria a se casar. E que viria a ser a mãe de Christopher... e de mais oito filhos. Fosse na ilha, ou no Brasil, para onde a família se mudou anos depois, a molecada dava duro para ajudar no sustento da casa. E nosso herói, que sempre teve uma vontade louca de estudar, precisou esperar para fazer os cursos com que sonhava.
Na verdade, Christopher esperou um bocado: comemorou seu aniversário de 40 anos estudando para o vestibular da PUC de Campinas, onde cursou Economia. Já perto dos 60, fez outro curso e se tornou Mediador voluntário numa Câmara de Arbitragem em Curitiba. Aos 65, foi fazer pós-graduação em Produção Industrial na Universidade Federal do Paraná.
Hoje, a poucas semanas de completar 76 anos, é um dos membros mais ativos do Conselho de Segurança de Maringá. E, no início deste mês, ligou radiante para o filho Fabio, contando como havia sido seu primeiro dia como aluno do primeiro ano da Faculdade de Direito.
Christopher Peter é a prova viva de que nunca é tarde para se aprender algo novo. Nem para mudar de vida, de idéia ou de carreira.