Texto original do meu artigo publicado na edição de ontem (24/04/2009) da Gazeta Mercantil:
Existe hora certa para ser feliz? [artigo de Marcelo Cherto]
Quando conheci Mara Gabrilli, fiquei impressionado com essa mulher bonita, inteligente, simpática... e tetraplégica há 15 anos - conseqüência de um acidente de carro que rompeu sua coluna vertebral. Embora não mova um único músculo do pescoço para baixo, faz palestras, administra uma ONG que apóia atletas portadores de deficiências físicas e é um dos membros mais atuantes da Câmara Municipal de São Paulo, para a qual foi reeleita em 2008 com a maior votação recebida por uma vereadora em todo o Brasil.
Estou seguro de que sua história dá um livro. Tanto que convenci meu amigo e editor Luis Colombini a lançar essa obra. Para apresentar os dois, agendamos um almoço num restaurante do Centro de São Paulo. Embora fascinado pelo charme, a garra e a alegria contagiante de Mara, Luis estava ali a trabalho e precisava conhecer a vida e a forma de pensar daquela mulher. E lá pelas tantas sapecou, na lata: “Mara, você acredita que algum dia voltará a andar?”. E ela, com a maior tranqüilidade: “Mas é claro que vou. Só que não vou esperar que isso aconteça para ser feliz”. Que aula de vida, não?
Conheço gente com pique empreendedor que acha que só vai ser feliz quando puder criar uma empresa. E segue infeliz, porque “a hora certa” de largar o emprego e fundar um negócio próprio nunca chega.
Em primeiro lugar, quem disse que para ser empreendedor alguém precisa criar a própria empresa? Um executivo pode empreender na empresa onde trabalha. Empreender é criar riqueza nova a partir do rearranjo do que já existe. É fazer as coisas de uma maneira diferente - e melhor - do que aquela como sempre foram feitas. Às vezes, para isso, pode ser necessário fundar uma empresa nova, tudo bem. Mas nem sempre.
No entanto, a maioria daqueles com espírito empreendedor insiste em aguardar “o momento certo” de virar “donos do próprio nariz”. E, como esse momento parece nunca chegar, se resignam com a possibilidade de seguir infelizes pela vida afora. A menos que, por um golpe do destino, venham a perder seus empregos.
Pois é. A maior parte dos que externam seu lado empreendedor só o faz depois de passar por uma desgraça, como uma dispensa ou uma trombada de frente com o chefe. Aliás, com o tempo, muitos ex-empregados descobrem que ter sido despedidos ou forçados a pedir demissão foi a melhor coisa que lhes aconteceu... mesmo que nos primeiros tempos não sentissem isso.
Portanto, se você perdeu o emprego, ou sente que está prestes a perder, anime-se, Isso não é necessariamente ruim. Pode ser o empurrão de que precisava para revelar sua porção empreendedora. Se, por outro lado, você tem espírito empreendedor e não está com seu emprego ameaçado, mãos à obra: encontre formas melhores de fazer o que faz. Realize sua vocação: empreenda na função onde está. Não fique esperando que aconteça sei lá o que para ser feliz.
Ser feliz tem menos a ver com o que acontece a você do que com o que você faz com o que lhe acontece.
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Marcelo Cherto é diretor da GrowBiz – grow your business (www.growbiz.com.br), consultoria de expansão de negócios e ocupação de mercado resultante da integração de Cherto (consultoria especializada em franquias e outros canais), Advance (consultoria especializada em canais) e Ricardo Pastore (consultoria de varejo). É membro do Conselho Consultivo Global da Endeavor e da Academia Brasileira de Marketing.