Como não podia deixar de fazer, estive hoje no velório de Dna. Ruth Cardoso. Sem que eu percebesse (por estar de paletó? ou por meus cabelos grisalhos? ou será que tenho cara de "otoridade"?), fui direcionado à entrada reservada às assim chamadas Autoridades. Fiquei um pouco por ali, em meio às "personalidades" e, seguro de que aquele não era o meu lugar, fiz o caminho de volta e entrei na fila do "público".
Isso me deu a oportunidade de testemunhar duas cenas. Uma que Dna. Ruth certamente odiaria. E outra que sei que ela teria amado:
Cena 1: um monte de políticos de todos os matizes disputavam alguns minutos de microfone e de luzes-câmera-ação, cada um com mais vontade de aparecer do que o outro. Um nojo.
Cena 2: na fila do "público", à minha frente, um jovem alto e magro, com a barba por fazer e vestido com roupas muito simples, com uma garotinha pela mão. Diante do caixão, levantou a menina e lhe disse baixinho: "Filha, essa aí foi uma grande mulher". E seus olhos se encheram de lágrimas. Perguntei se tinha conhecido Dna. Ruth. E ele, com jeito tímido, talvez com vergonha do próprio choro, respondeu que "só pela TV e os jornais, mas sei que ela era uma pessoa iluminada. Por isso quis que minha filha a conhecesse". Aí foi a vez dos meus olhos se encherem de lágrimas.
O rapaz tem razão: o Brasil perdeu uma grande mulher.