Fuçando meus guardados, veja só a foto que encontrei. Foi tirada no Deserto do Arizona, próximo à cidade de Tucson, no início de 1977:
Você reconhece o bicho-grilo (como se dizia na época)? Pois é, sou eu mesmo, aos 22 anos de idade. Uma piada, não? Morro de rir, tentando ver nesse quase-anarquista com cara, barba e cabelo (ainda pretos) de homem da pedra, o consultor e empresário cinqüentão, grisalho e comportado que hoje sou.
Fico pensando naquele moço, em que mal me reconheço. Recém formado em Direito, sem muita noção do que iria fazer da vida daí por diante, em dúvida entre ficar nos EUA ou voltar para o Brasil, entre casar e sossegar ou comprar uma motocicleta e sair viajando pela América Latina (à la Guevara), entre assumir a profissão de advogado ou abrir um restaurante natureba...
Concluo que a vida é muito engraçada. E cheia de surpresas. Um único gesto, que não dura mais do que um instante e, na hora, parece não ter importância nenhuma, pode mudar todo o rumo da nossa existência e impactar um monte de gente. Atravessar (ou não atravessar) a rua, atender (ou não atender) a um telefonema, ir (ou deixar de ir) a uma festa, pegar o segundo (ou o terceiro) vagão do metrô, acordar 3 minutos mais cedo (ou mais tarde). Cada pequeno fato alterando o rumo do universo, como a tal história do efeito borboleta.
Nunca que eu poderia, em 1977, sequer sonhar os caminhos que iria de fato trilhar, o que iria me tornar, as pessoas, oportunidades e tropeços que Deus iria colocar no meu caminho, a mulher com quem iria me casar, os filhos que iria ter, as escolhas que iria fazer (ou o que e quem a vida escolheria para mim...).
Assim como continuo sem saber ao certo para onde a vida ainda vai me levar. Que será que o destino ainda me reserva?
Mesmo assim, sigo cheio de sonhos e planos. E lutando bravamente para concretizá-los todos. Mesmo consciente de que não tenho como saber ao certo que bicho vai dar. Já aprendi que isso é da vida. O risco, a incerteza, as dúvidas, tudo isso vem incluído no pacote.
De uma coisa eu sei. No que depender de mim, vou seguir o conselho que um dia ouvi do Edson Godoy Bueno, fundador e presidente da Amil: cultivar minhas memórias, sim, mas jamais permitir que elas se tornem maiores do que os meus sonhos.