O caderno Aliás, da edição de hoje de O Estado de S. Paulo, traz na última página um perfil da batalhadora Dorina Nowill, a paulistana de 89 anos que ficou cega aos 17 e até hoje trabalha duramente pela inclusão dos deficientes visuais, através da Fundação que criou e que leva seu nome.
Mesmo sem a conhecer pessoalmente, tenho por essa senhora um carinho especial. No fim da vida, praticamente cega mas absolutamente lúcida, minha mãe se mantinha "antenada" no que acontecia e se distraía ouvindo fitas cassete com os textos integrais da revista Veja e de uma série enorme de livros lidos por voluntários da Fundação Dorina Nowill.
Ao ler a matéria hoje cedo, não pude deixar de pensar na minha querida amiga Mara Gabrilli (que ficou tetraplégica aos 26 anos e, mesmo sem mover nenhum músculo do pescoço para baixo, se elegeu vereadora por São Paulo duas vezes, criou uma ONG que apóia dezenas de atletas portadores de deficiências, trabalha como uma doida, namora, faz palestras e alegra a vida de quem dela se aproxima) e na Lara Syaulis (que ficou cega muito jovem e criou, junto com a mãe, Mara, e com o apoio do pai, Victor, a LaraMara - Associação de Assistência ao Deficiente Visual, que faz um trabalho belíssimo, capaz de emocionar qualquer um que o conheça de perto).
Mulheres guerreiras, que me fazem sentir vergonha das vezes em que desanimei (e ainda me desanimo) em face de problemas e dificuldades infinitamente menores do que os que elas enfrentam pela vida afora - e sem perder o bom humor, nem a esperança numa vida e num mundo melhor.
Essas três mulheres são um exemplo para todos nós. E mostram - não com palavras, mas com atos concretos - que mesmo num mundo de especulação e esperteza, cheio de políticos safados de todos os credos e de imbecis e de canalhas de todos os matizes, a gente não pode perder a fé, nem deixar de fazer o que estiver ao nosso alcance para fazer uma diferença positiva na vida dos que nos cercam e, assim, criar um futuro melhor.