Ótimo texto do meu amigo e parceiro Clemente Nobrega, publicado hoje no seu blog (que você acessa clicando aqui), e que tomo a liberdade de reproduzir aqui:
É possível ser sustentável sendo corrupto?(Parte I) [texto de Clemente Nobrega, publicado em 06/12/2009]
Estava lendo no O GLOBO de hoje que nosso sistema judiciário não pune a corrupção. Conclusão minha: o Brasil não pode se tornar uma grande potência.
Sou cético quanto à possibilidade de crescermos até o nível de potência mundial cavalgando só naquelas coisas que estão fazendo todo mundo nos elogiar hoje (estabilidade econômica,inclusão social via programas como Bolsa Família,etc..).Num post aqui neste blog, eu disse que nosso crescimento não pode ser sustentável porque não temos reservas de “capital humano”, mas há outros fatores. Também não temos reserva de “capital social”.
Um país sem isso (já explico o termo) não inova, não gera riqueza. Um país corrupto não pode crescer sustentavelmente. Vou explicar usando fragmentos de um texto que fiz para a EPOCA NEGÓCIOS em 2007 (matéria de capa:”Porque o Brasil é ruim de inovação”).
Aprendi que o processo de geração contínua de riqueza nova (inovação) que existe nos paises desenvolvidos é uma propriedade emergente. Isso quer dizer o seguinte: num grupo (pessoas, empresas, países), desenvolvimento sustentável (sistemático) é algo que emerge - brota - quando existem certos encaixes entre vários elementos diferentes. Não é algo que se possa embutir no sistema por decreto.
No Brasil faltam encaixes entre as peças certas. Ou essas peças não existem, ou os encaixes são ruins.
Em 2002, fizeram uma pesquisa com 72 países ricos e pobres. O que se investigava era : ”O que torna um país sustentavelmente rico?”. Eric Beinhocker, da McKinsey, autor de “The Origin Of Wealth” comenta: “Talvez se imaginasse que os fatores determinantes da riqueza de um país fossem coisas como a existência ou não de recursos naturais, a competência das políticas de governo, ou a sofisticação de suas tecnologias físicas [artefatos tecnológicos]. Tudo isso conta, mas não é o principal. O fator mais importante são as tecnologias sociais do país. A regra da lei, a existência de direitos de propriedade, um sistema bancário organizado, transparência econômica, ausência de corrupção. Essas coisas desempenham um papel muito mais importante para o sucesso econômico do que qualquer outra categoria de fatores! Mesmo países com poucos recursos naturais e governos incompetentes, se saem razoavelmente bem se têm tecnologias sociais fortes e bem desenvolvidas! O vice-versa é verdade – não há país com tecnologias sociais ruins que seja bom em inovação, independentemente de seus recursos naturais e de suas políticas macro econômicas. Tecnologias sociais têm uma influência enorme, não só na escala dos países, mas na das empresas também...”.
Eu digo: as tecnologias sociais é que dão as cartas em qualquer escala em que haja humanos trabalhando para produzir algo juntos. Pode ser uma empresa, pode ser um país ou uma associação deles como a zona do Euro. Se o Brasil é ruim em inovação, pode apostar que as causas estão na fraqueza de suas tecnologias sociais, não na carência de investimentos em tecnologias físicas.