3 de jul. de 2008

Empreendedor que é empreendedor faz acontecer

Texto original do artigo escrito por mim e publicado n'O Estado de S. Paulo de hoje:

Empreendedor que é empreendedor faz acontecer

Marcelo Cherto*

Em 1986, eu funcionava como catalizador de um grupo que se reunia uma vez por mês, em São Paulo, para falar de Franchising. Em julho de 1987, por sugestão minha, criamos a ABF – Associação Brasileira de Franchising, cujos Estatutos escrevi à mão. A sede legal ficava no meu escritório e, para pagar o registro e confeccionar cartões de visita, fizemos uma “vaquinha”.

Meses mais tarde, no Rio de Janeiro, outro grupo, coordenado pelos donos de uma consultoria que já não existe há anos, fundou a AFRAB – Associação dos Franqueadores do Brasil. E, por bobeada nossa, obteve o reconhecimento da IFA, a Associação Internacional de Franchising. Aquilo foi um golpe para nós. Acreditávamos que a ABF não teria futuro sem o reconhecimento da IFA. E esta só reconhecia uma única entidade “da classe” em cada país.

Como não sou de jogar a toalha e sei que a luta só acaba quando termina, viajei por minha conta para Washington, onde ficava a IFA. E descobri que, além de uma “associação-irmã”, a entidade também tinha um Representante Especial em cada país onde o mercado de franquias o justificasse... como era o caso do Brasil.

Fiquei sabendo que o típico Representante Especial era um advogado. E que sua principal tarefa consistia em enviar à IFA um relatório mensal detalhado, dando conta de qualquer atividade do Legislativo, Executivo ou Judiciário de seu país que pudesse, de alguma forma, afetar a prática do Franchising. É óbvio que me candidatei ao cargo, entendendo que minha nomeação poderia ser “vendida” ao mercado como uma forma de reconhecimento da ABF, da qual eu era o Vice-Presidente Jurídico.

Só que os “gringos” já tinham em mãos uma lista com vários nomes de advogados brasileiros integrantes de escritórios de renome, recomendados por membros da Diretoria da AFRAB ou por franqueadores americanos “de peso” com interesses no Brasil. Ficou claro que, SE meu nome fosse incluído, estaria em último lugar e com pouca chance de ser o escolhido.

Saí de lá com o rabo entre as pernas. Mas já no avião tracei um plano e, no mesmo dia em que cheguei a São Paulo, elaborei o primeiro relatório mensal, tentando adivinhar qual seria o formato correto, e o enviei à IFA. Dias depois, recebi um fax agradecendo e solicitando algumas informações complementares, que forneci imediatamente.

No mês seguinte, enviei um novo relatório, desta vez mais completo. Um mês depois, a mesma coisa. E assim por diante. Durante 4 ou 5 meses, atuei como se já ocupasse o cargo. Até que, um dia, recebi um documento que me nomeava Special Representative da IFA no Brasil. E fui o único brasileiro a exercer a função, enquanto ela existiu.

Depois de alguns anos, o cargo foi extinto em todos os países e todos nós, que à época o exercíamos em várias partes do mundo, recebemos um belo diploma de Honra ao Mérito “pelos relevantes serviços prestados à causa do Franchising”. Mas nessa altura já não fazia diferença, pois a AFRAB havia se fundido com a ABF e já não existia como entidade autônoma.

O episódio me ensinou uma lição que venho aplicando em todos os empreendimentos com que me envolvi desde então, com ou sem fins lucrativos. Fazendo uma metáfora futebolística bem ao gosto do Presidente da República, nos negócios e na vida, como no campo, quem fica pedindo o passe pode até receber a bola. Mas quem se antecipa e se posiciona em condição legal de fazer o gol sempre tem preferência.

Afinal, todo mundo gosta de resultado. E ganha o jogo não o time com as camisas mais suadas, nem o que tem o uniforme mais bonito ou faz as jogadas mais vistosas, mas sim o que marca mais gols.

Alguém já disse que sorte é quando a oportunidade bate à sua porta e você abre. Eu digo que um empreendedor muitas vezes tem que se antecipar, construindo a porta e saindo por ela em busca da oportunidade que, por algum motivo, se esqueceu de vir procurá-lo.

Em geral, resultados não acontecem: precisam ser construídos.

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* Marcelo Cherto é advogado e consultor especializado em Ocupação de Mercado através dos Canais de Marketing (Revendas, Distribuidores, Franquias, Filiais e outros), presidente do Grupo Cherto (www.cherto.com.br) e membro da Academia Brasileira de Marketing e do Global Advisory Board da Endeavor Global.