3 de mai. de 2010

Padres pedófilos, tylenol e estatística - texto brilhante do meu amigo Clemente Nobrega:

Pedófilos,Tylenol, Simpson, autoridades, e estatística [texto do Clemente Nobrega de 21/04/2010]

O número de casos de pedofilia entre padres católicos cresce, cresce, cresce… A Igreja Católica está diante de um colossal problema de marketing. Análogo ao que a Johnson & Johnson enfrentou com o Tylenol em 1982 - você toma um remédio para se curar e o remédio te mata. O caso do Tylenol é um clássico sobre como enfentar uma situação que pode, potencialmente, liquidar uma instituição respeitável.

Meu conselho (grátis, não precisa indulgência em troca): a Igreja Católica devia estudar o caso Tylenol e seguir suas linhas mestras. Esse caso criou a jurisprudência (hmmm..) sobre como agir nessas situações. Nesses casos, a receita (sem trocadiho) é: verdade absoluta, trasparência total, presença permanente na mídia falando só a verdade. Sem jogadinha. Sem jogo de palavras. Sem tirar o corpo fora. Nada de opiniões de experts ou “sentimentos”. Fatos, fatos, fatos. Experts não estão com nada, sejam eles juízes, cardeais, médicos ou o que forem. Diante de situações assim, deixem a estatística falar. Com todo respeito, reverendos.

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Estatística pode ajudar, mas autoridades em geral (incluindo cardeais e juízes, para não falar em políticos) são ignorantes disso (por desconhecimento mesmo ou … completem vocês nos pontinhos). Parece que tem 400.000 padres no mundo. O número de casos reportados de pedofilia está atingindo um patamar que permite análise estatística. Um cardeal já disse (malandramente) que “a Igreja não tem um problema de pedofilia, mas sim de homosexualismo” (ah bom..). Estatística neles! Contratem o Gallup. A Igreja (sempre preocupada acima de tudo com a verdade, né?) devia contratar um amplo estudo e divulgar maciçamente seus resultados (==> pessoal, este sou eu,”Clemente, o ingênuo”).

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Façam a conexão: durante o julgamento do astro americano O.J. Simpson, acusado de matar a mulher após espancá-la, o advogado de defesa (cheio de nome, formado em Harvard) veio com essa: ”meritíssimo, condenar este homem será uma injustiça. Ele espancava a mulher, é verdade. Mas apenas 10% dos homens que espancam suas mulheres cometem assassinato contra elas“).

O juiz devia ter perguntado na lata: ” ok ,doutor, mas qual a percentagem de casos de assassinatos em que a mulher foi morta pelo marido após ter sido espancada por ele? É outra coisa, ilustríssimo, sabidíssimo, capabilíssimo, senhor advogado. Não tente me enrolar”.

O juiz não perguntou. O.J. Simpson foi inocentado.

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E o pedófilo de Luziânia, hein? Aquele que matou seis ou sete meninos após ter sido posto em liberdade…

Se fosse num estado como a Virgínia, nos EUA, ele não teria saído da prisão.

Lá, como em muitos outros estados americanos, há um sistema baseado em análise de risco estatístico que determina a probabilidade de um predador sexual (com histórico de violência) voltar a atacar depois de solto. É uma ferramenta (um algorítmo) que está em vigor em vários estados lá legitimada por um ato jurídico chamado SVPA (Sexually Violent Predator Act).

Esse ato permite que um atacante sexual seja mantido preso mesmo depois de cumprida a pena. É de uma simpliciade franciscana. Um algoritimozinho com 4 variáveis leva em conta o seguinte: a) O cara tem história de reincidência? b)Tem mais de 25 anos? c)Suas vitimas são de que sexo? d)Ataca só pessoas que conhece ou desconhecidos também?

O algoritimo dá pesos a esses parâmetros, faz cálculos e soma os pontos. Passou de certo limite continua em cana, tenha ou não cumprido a pena! Será que o juiz, os psicólogos e demais “experts” que deram “pareceres” favoráveis à soltura do cara, sabem o que é um algorítimo? Sabem que o algorítimo é melhor do que seus “sentimentos/pareceres/cultura/preparo/leituras/diplomas/opiniões” nesse tipo de caso? Sabem nada. São experts, entende?

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Moral? Experts estão em baixa. Algorítimos e procedimentos automáticos estão em alta. Não confie na insenção de ninguém cujo salário dependa de sua não isenção. ”Desconfie de quem lucra com seu ideal”, como aconselha o Millôr Fernandes. Quem valoriza a verdade, devia valorizar ciência, nunca opinião de experts. Muito menos opinião de “autoridades”.