13 de nov. de 2009

As redes complexas e o Apagão

Em mais um texto brilhante, que tomo a liberdade de replicar aqui, meu amigo e parceiro Clemente Nobrega dá sua visão de cientista sobre o Blackout (Apagão) que abalou o Brasil há alguns dias:

"A lição é a mesma da crise financeira internacional. Quanto mais se conectam elementos a uma rede, maior é a chance de surgirem efeitos não previstos. Isso é matemática. Tem a ver com o que chamam de topologia de redes complexas.

Algumas vezes, esses efeitos não previstos podem ser catastróficos (principalmente ,como no nosso caso, quando se soma doses cavalares de incompetência às conseqüências da topologia de redes densamente conectadas. “Ei, Ministro Lobão, você estava fazendo o quê na hora do blackout? Pintando o cabelo?"). Tire a incompetência e já teremos nossa dose de surpresas desagradáveis (a rede não perdoa). Com ela então…

Diz aí: o que apagões elétricos, crises financeiras e terrorismo têm em comum? São todas manifestações que poderiam ser limitadas, ou totalmente eliminadas, se decidíssemos cortar os links entre os elementos que as compõem e deixar os “nós” funcionarem localmente apenas. Se a produção e consumo de eletricidade fosse local (em cada cidade), cada blackout seria local também. Dá pra fazer? Não.

Se você desligar o comércio internacional (cortar os links), não teremos mais problemas com relação aos impactos, digamos, das decisões do Banco Central Japonês sobre nossa economia. Em compensação, veríamos o derretimento da economia global. Fechar as fronteiras reduz o perigo de ataques terroristas, mas também destrói o sonho de sociedade plural e diversa. Se você isolar, cortando os links, tudo piora. Ficaremos mais pobres e mais burros. Cuba não tem futuro. Isolado, nada tem.

Falhas em cascata são comuns em redes complexas (muito densamente conectadas). Elas acontecem na Internet, onde o tráfego é redirecionado para compensar roteadores que funcionam mal. Isso às vezes causa recusa de serviço por parte dos roteadores que absorvem tarefas-extra sem ter capacidade para isso. Vimos a mesma coisa quando, em 1997, o FMI pressionou os bancos centrais de vários países asiáticos a limitarem a concessão de crédito. Isso causou um efeito cascata que levou à quebra de muitos bancos e empresas mundo afora.

Numa rede típica, mesmo densamente conectada, a maioria das falhas acontece localmente e é absorvida localmente também, o mundo nem fica sabendo delas. Algumas, porém, se infiltram (percolam) para dentro das malhas tecnológicas ou sociais e nos atingem a partir das mais inesperadas direções. A menos que queiramos nos isolar, cortando as conexões, a única maneira de mudar o mundo é melhorando cada nó e seus links. Como se poderia fazer isso?"